quinta-feira, 27 de maio de 2010

Definhamento.


'' Meus olhos fazem germinar um líquido vermelho e quente – às vezes parece ácido, mas é a dor - minha pele também, meu coração se corta e se mata... Quer morte mais vagarosa que essa? Morro de tantas formas, mas nunca vi morte mais carinhosa, morte mais paciente e mais cuidadosa. Nem sinto que estou morrendo, só lembro. É, quando eu paro p’ra pensar um pouco, vejo-a vindo até mim, erguendo os braços para um doce e mórbido abraço, eu me entrego aos poucos, esperando que ela possa cuidar de mim e fazer parar sangrar com o toque firme de tuas mãos no meu corpo exausto.
Quando me deito e me calo diante ao sossego do meu quarto sem lustre, escuto apenas o barulho das aves noturnas e alguns insetos lá fora. A chuva afável na minha janela, o vento cantando, as estrelas lôbregas que se encobrem nas nuvens. Por alguns minutos, horas talvez, nada mais parece viver... Apenas tu e tua terna ausência que acabam por me deixar em fatias na minha cama. Dizer que é falta de alma não é muita atrocidade, já que ao morrer por dentro, me falta psique, espírito ou sei lá como preferem chamar. De qualquer forma, me sinto assim, sucumbida por tal sede de imediação, cumplicidade, benignidade, cordialidade, tolerância, complacência... Amor.''


(www.luizadeoliveira.com)

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu adorei o texto! lindo mesmo!