sábado, 19 de setembro de 2009

Canção pra dormir .



'' Não tenho truques, tenho trancas. A forma como o cabelo cai no meu rosto não é parecida com o jeito que eu me jogo na cama. Você fala que sou doce, tenho lá meus momentos, no entanto candura não faz meu dia. Vivo de ocre, mas é o sangue quem me mantém em pé. Minha saida é espasmo, parecido com respirar ainda que disso eu às vezes esqueça. Acha que não me importo, mas o seu movimento me dilacera, me esfrangalha, me reduz a pó. Você não me conhece e o que ama é a carcaça. Ama o espetáculo. Sem saber que por de trás dos panos eu me suicido. ''

Já ficava tarde e ela ainda perambulava pelos cômodos. Era possível notar sua inquietação: Olhos conturbados, movimentos contínuos e repetitivos com as mãos. Senta, treme as pernas, passa as mãos pelo rosto, arrasta-as até o maxilar, apoia. Levanta. Anda de lá pra cá, como se buscasse por uma resposta, sabendo ainda, que não a teria. Sente a boca seca, vai à cozinha e se serve com suco de limão, azedo, como os próprios dias. Bebe meio copo e nota um laço apertando a garganta, então deixa-o numa mesa qualquer. Olha pro alto da parede: O tempo da sala parara. - Não, não de verdade, ela não podia estar tão louca assim, falo de um relógio com pilhas fracas. É, eu entendi que não fui muito clara, mas deixe-me continuar por favor?! - Deixou-o inerte mesmo, não importava naquele momento. Seus pensamentos eram martirizantes. Resolveu tomar um banho, talvez amenizasse. Não deu muito certo. Sentiu uma dor. - Não, também não era nenhum clichê psicológico. Era no abdômen, já estou acabando, não me interrompa novamente. - Pensou em se deitar e o fez. Adormeceu com dificuldade, cantando uma melodia que soava bem aos ouvidos.. Não me lembro bem a letra..Nem o ritmo.. (...)

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