quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Uma crônica para sentir você .

'' Não desejo ficar aqui por muito tempo. Mas há algo em mim que me permite fazer um esforço imenso, mesmo já sendo 3 horas e 30 minutos de uma madrugada de setembro. Continuo sentada e com vontade de escrever algo. Mas sentir você é mais forte do que a certeza de minha necessidade. Confesso que já tentei inúmeros versos e é a tua imagem que me vem à lembrança.
Coloquei um vinil da Nina Simone na vitrola para ver se a solidão que o vinho seco e quente me trouxe, poderia me acompanhar nas possíveis descobertas de teorias que desejo acrescentar em minha tese. Meu esforço foi em vão. Você não sai da minha sala. Não sai de meu quarto. Não sai do meu banheiro e da cozinha. Você é a grande culpada pela perda de uma noite que estava apenas começando. Você não se separou de mim um minuto se quer. Estou exausta e contente. O sabor do vinho se intensifica quando vejo sua boca. Entrego-me. Liberto-me diante de milhões de coisas que eu poderia estar desenvolvendo após dialogar com os teóricos inúteis das ciências humanas. Se eles são importantes nesse momento? Eu não saberia responder sobre o que pensam ou o que pensaram. A vitrola continua a música sem nenhum arranhão. E percebo que você ainda não foi embora. Relaxo... Com a Nina e querendo que você estivesse aqui me ninando, e eu a ti também. Havia uma sutileza em teu olhar que eu gostaria de traduzí-la, daí lembrei que não há idéia alguma que consiga fazer isso porque apenas em nosso português há a palavra saudade. Acho que não se traduz emoções. E quando se trata de saudade é mais complicado. Suas mãos também falaram, mas eu prefiro ouví-las pessoalmente, porque vai dá vontade de tê-las, e como você está longe, o nosso português vai é ficar chateado por alguém sentir tanta saudade de uma pessoa. Ele pode até querer inventar outra palavra para traduzir um sentimento tão inesperado.A noite vai se encontrando perdida em uma curiosidade que sabe ser lenta e cautelosa. O orvalho se preparou precocemente porque ele gentilmente tornou-se companheiro de lágrimas que o vinho seco provou em minha língua quando escorriam em minha face e se misturaram em seus sabores respectivos ao chegarem a minha boca. A manhã já iluminada com um anil turquesa lindo que eu nunca tinha visto me põe na dúvida se de fato ele sempre existira nas manhãs que precedem os dias, ou se simplesmente eu não conseguia ver nas cores dos dias a poesia da vida. Fica essa dúvida. O sabor do vinho poderia se transformar em sonhos que pudesse ainda te levar nesta madrugada estas palavras. Será que dormes? [...]''

Um comentário:

camila souza. disse...

incrivel como mesmo longe parece que a pessoa fica do nosso lado grudada,como um carrapato!Voce nao quer pensar mais pensa,voce nao quer imaginar mais imagina,voce nao quer procurar mais procura em todos os cantos da casa.
Tem gente que consegue ter esses poderes sobre a gente.