segunda-feira, 18 de abril de 2011

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' Esse é só um dos sintomas, ficar muito tempo deitado. Tem outros, físicos. Uma fraqueza por dentro, assim feito dor nos ossos, principalmente nas pernas, na altura dos joelhos. Outro sintoma é uma coisa que chamo de pálpebras ardentes: fecho os olhos e é como se houvesse duas brasas no lugar das pálpebras. Há também essa dor que sobe do olho esquerdo pela fronte, pega um pedaço da testa, em cima da sobrancelha, depois se estende pela cabeça toda e vai se desfazendo aos poucos enquanto caminha em direção ao pescoço. E um nojo constante na boca do estômago, isso eu também tenho. Não tomo nada: nenhum remédio. Não adianta, sei que essa doença não é do corpo.


Eu nunca pensei que encontraria alguém com o coração tão grande e tão espaçoso como você. Como eu. Nossos corações são como peças de um quebra-cabeça que se encaixam perfeitamente. Há 5 anos eu descobri o segredo da fechadura, eu entrei e nunca mais quis sair. Tuas paredes quentes me fizeram sentir confortável e fiz dali, minha morada. O mesmo tu fizeste com o meu. Além de morada dos sentimentos mais incríveis, tornou-se tua morada também. Enfeitaste as paredes com sua ternura, perfumaste com seu carinho e cuidaste como se fosse o teu. E tornou-se teu. Pouco a pouco, tornaste dono, com direito a chave e tudo. Cuidou e dentro dele, me esperou. Assim como dentro de ti, eu esperei também. Passavam-se os dias e os corações pareciam cada vez mais fracos, quebradiços. Então, mesmo longe, fazíamos com que uma nova base, toda feita de amor, fosse construída para que as paredes não desabassem. Fizemos pilares de carinho, azulejos e pisos com carícias. Mas aos poucos vinha o frio e junto com ele, a saudade. Era a saudade que desfazia as paredes, tudo culpa dela. Mas como tirá-la dali? Simplesmente com algumas palavras, alguns gestos ou um simples ‘eu te amo’. Posso ser complicada a ponto de fazer com que você se complique também. Sempre choro e te faço chorar, sempre rio e te faço rir. Sou mil sentimentos em uma carcaça um tanto quanto estranha. Não, sou APENAS um sentimento em uma carcaça, um sentimento que tem como consequência todos aqueles que citei ali em cima. O amor me faz feliz, triste, enciumada, cansada, sozinha, completa, satisfeita, insatisfeita. Amor é antítese. Amar é ser bipolar, e sem brincadeira, você sabe como é.

Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. A noite ultrapassou a si mesma, encontrou a madrugada, se desfez em manhã, em dia claro, em tarde verde, em anoitecer e em noite outra vez. Fiquei. Você sabe que eu fiquei. E que ficaria até o fim, até o fundo. Que aceitei a queda, que aceitei a morte. Que nessa aceitação, caí. Que nessa queda, morri. Tenho me carregado tão perdida e pesada pelos dias afora. E ninguém vê que estou morto.

No cinzeiro, o cigarro esquecido queima. Um fino fio de fumaça sobe aos poucos indeciso, adensando o ar que se enche de olhos, de mãos, de gestos incompletos, vozes veladas, palavras não formuladas. Sem compreender, vaga entre a fumaça e tomba. Como uma cega, vendo apenas para dentro. '

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