segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ponto de partida.


A lua estava curiosamente maior e o céu mais negro aquela noite. Da cama pude observar-te debruçada na sacada como quem conta estrelas, sente o aroma de flores silvestres. Voltou-se para mim e, sorrindo delicadamente caminhou até nosso recanto recolhendo-se ao meu lado...
_ Está bonita hoje, não?
_ Não tanto quanto você...
_ Ah, poupe-me de mais uma de suas cantadas, falo sério! - Dizia com aquele tom adorável, ainda sorrindo.
_ Não é uma cantada, é um pensamento e a senhorita deveria me agradecer por compartilhá-lo.
_ Desculpe-me ''Ms. Kindness''! Prometo que da próxima vez serei mais cordeal para com teus pensamentos! - Brincava, fazendo gestos com os braços, como se me gozasse.
Sorrimos pela terceira vez.
Puxei-a delicadamente p'ra perto e deixei com que nossos lábios se tocassem, trocando temperaturas da maneira mais sutil que me pareceu ser capaz naquele momento. Tentei por diversas vezes denominar o que se passava ali, o que eram todas aqueles arrepios e pulsações que me invadiam sem pedir licença, o que era aquele medo desesperado de perdê-la dos abraços, de ficar distante daquele afago tão meu. Num lapso de pensamento, ainda sem parar de beijá-la (agora quase sufocando-a), olhei para o chão e vi minhas próprias pegadas apressadas, como se já houvesse passado por ali em outros intervalos. Círculos.

Ainda que me esforçasse, conscientizei-me de que nunca compreenderia e que a graça estava justamente em não fazê-lo. Me contentava apenas em relembrar-me de todas as imagens fotografadas pela memória, em abrir os olhos e devolver seu espaço, deixando tua boca tão rubra tomar sua forma de origem, macilenta.

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